A Tribuna 15.8.69 Fotografia tal qual a entendemos nasceu no Brasil (Departamento de Pesquisas) O interesse pela fixação da imagem por outro meio que não a pintura nasceu quando da descoberta das primeiras lentes usadas em aparelhos destinados a pesquisas astronômicas. Mas foi no século XVI que se chegou ao que podemos chamar de observação que levaria à fotografia propriamente dita. O enegrecimento da substância então denominada lua-córnea (cloreto de prata) pela luz, foi notado, pela primeira vez por Fabricio, célebre alquimista italiano e, logo a seguir, estudada por Da Vinci e Bacon. Em 1560, Pôrto, em Nápoles, aperfeiçoava o que se tem como a primeira câmara escura com emprego de lente biconvexa. As experiências ficaram nisso, e em 1777 o sueco Scheele voltou a pesquisar as radiações e a influência da luz sobre o cloreto de prata. Em 1780 coube ao francês Charles utilizar o processo com o propósito de obter reprodução de imagens. Um oleiro inglês, Wedgwood, que nas horas vagas se dedicava a pesquisas químicas, em 1802 fez novas tentativas, usando, desta vez, o azotato de prata com o que obteve bons resultados. Mas foi Niceforo Nièpce quem voltou à lua-córnea e, depois de inúmeras experiências, repetindo o que também havia feito o inglês Wedgwood, conseguiu chegar à fixação da imagem através do emprego do betume, embora sem os resultados que desejava. Depois foi Daguèrre, um pintor, em 1813 e novamente Nièpce em 1828 que empregaram novas técnicas. Daguèrre criou um processo que durante muito tempo foi tido como ideal. Os dois se associaram para a exploração do método e seu aperfeiçoamento, mas Nièpce faleceu quase de repente e as restantes pesquisas foram feitas por Daguèrre sozinho. Aparecem em cena então vários ensaístas, dentre os quais se destacou o inglês Talbot e mais o francês Blaquart. Nesse entretempo, outro francês vinha realizando experiências no Brasil, era Hércules Florence. Nascido em Nice, veio para o Brasil com 21 anos integrando a expedição científica russa chefiada pelo Barão de Langsdorff. Desenhista emérito, Florence logo se destacou pelos trabalhos realizados e, de tal modo que não quis mais regressar à Europa. Apaixonado pela fotografia, que ainda engatinhava, conseguiu, em 15 de agosto de 1832, na então Vila de São Carlos, atual cidade de Campinas, com uma câmara escura de sua fabricação, obter as primeiras fotografias tal como as entendemos atualmente. A primeira chapa foi batida para fixar a cadeira municipa de São Carlos. Chapas e reveladores fora também de sua confecção. A foto ainda pode se apreciada, pois o original está em poder da família Florence. Nela aparece, além do prédio, um soldado na porta entre uma coluna e uma janela. Na companhia do sábio russo, Florence percorreu grande parte da Amazônia, no Estado do Pará e ali coletou material para um tratado zoofônico dos pássaros brasileiros, o primeiro livro nacional sobre a especialidade. Além do desenho e do interesse pela ornitologia, Florence dedicou-se ainda a pesquisas sobre a poligrafia, que viria a dar no atual mimiógrafo, a pulvografia, a estereopintura e a confecção de uma papel a prova de falsificações. Tal foi o trabalho do sábio franco-brasileiro que, atualmetne é ele tido como o Pai da Fotografia e da Iconografia Paulista. Entre os que o prestigiaram e com ele mantiveram relações ou conviveram destacam-se o Visconde de Taunay e o Imperador Pedro II. "Câmara" uma das mais importantes revistas fotográficas do Mundo, editada na Suíça também focalizou a obra do inventor e além de tecer-lhe justos elogios, também o considera como o homem que de fato possibilitou a arte fotográfica moderna. Com preito à data em que se fez no Brasil a primeira fotografia, na pequenina São Carlos de 1832, a data de hoje é tida como o Dia do Fotógrafo, esses profissionais sem os quais a vida moderna não pode marchar, haja vista o que os homens das câmaras fizeram há pouco, quando da conquista da Lua".